quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A primeira Micareta do Brasil: A Micareta de Jacobina/BA

A MICARETA DE JACOBINA: O RESULTADO DA CRIAÇÃO FRANCESA QUE VIROU MODA NA BAHIA E NO BRASIL



     Figura 1: Foto da Micareta de Jacobina 1936
     Fonte: Google (na própria foto tem a referência de quem a fotografou)
Na verdade, tudo começou com uma antiga festa francesa, a Mi-carême, que acontecia no país desde o século XV, sempre no meio da quarentena – período que acontece a Páscoa.
Este modelo europeu inventou uma festa de “meia quarentena”, já que antes, o evento acontecia apenas em sua data oficial, no começo do ano. Seu objetivo era integrar a comunidade, sem seguir rigorosamente o dogma religioso de purificação durante quarenta dias antes do renascimento de Cristo. O primeiro contato brasileiro com o termo se deu na cidade baiana de Jacobina, em 1933, quando o jornal local “O Lidador” passou a estimular a realização de novas celebrações na cidade, inspirado pelo modelo francês. A pesar da folia ter sido divulgada nesse ano, havia um precursor que criou um dos primeiros blocos de rua do Estado em 1912.
Trata-se de Porcino Maffei um cidadão Italiano, que organizou os festeiros locais em um grupo batizado de “As Copas” que foi o primeiro bloco carnavalesco do Brasil. Neste período, municípios que hoje são referência na folia, como Salvador e Feira de Santana, nem mesmo tinham um projeto similar. Com a popularização local dos carnavais (fora de época) jacobinenses, em 1935, o mesmo periódico aportuguesou a Mi-carême (que significa literalmente, Meia-quarentena), transformando-a em Micareta, que viera ser conceituado como “carnaval fora de época”. Os jornalistas também sugeriram outros nomes, que ficaram menos conhecidos, como “Bicarnaval”, “Sertanejas Alegres” e “Refolia”.
Em 1936 foi registrado outro bloco os “Assassinos da Tristeza” que conforme o nome, reuniam diversas pessoas para acabar com a tristeza juntada durante o ano. A foto abaixo mostra esse registro feito por J. Rodrigues:




 Figura 2: Foto do Bloco “Assassinos da Tristeza” 1936.
 Foto: Juventino Rodrigues.


O outro registro fotográfico foi datado do mesmo ano, registrando outro bloco local que desfilava próximo à Igreja da Matriz de Santo Antônio, na Praça da Castro Alves:



















Figura 3: Foto do Bloco “Salgueiros do Amor” 1936.
Foto: Juventino Rodrigues.

Essas fotos mais que nunca, deixam evidências que Jacobina originou a Micareta, e os instrumentos são comprovações das machinhas que eram tocadas naquela época. As fotos evidênciam imageticamente um pouco da dimensão e os estilos proporcionados pela festa. Segundo Almeida e Oliveira (s/d) nessa época a “filarmônica, ou sociedades musicais era que comandavam as festas”.
Em 1937, a cidade de Feira de Santana, localizada no interior baiano, também realizou sua primeira Micareta, graças a um grupo de cidadãos inconformados pela não realização do carnaval na região, motivada pelas fortes chuvas daquele ano.
Estes feirenses decidiram transferir o período do evento, reunindo inéditos blocos e escolas de samba fora da temporada tradicional, que desfilaram pelo centro da cidade equipado com 200 camarotes.
Até os anos 1990 a folia ficou restrita aos baianos, depois ganhou os holofotes em todo o Brasil e se transformou em uma “febre” entre os universitários e jovens em geral, de  outros estados como Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, entre outros.
Os responsáveis  por essa popularização do evento foram conjuntos e músicos novos e veteranos do axé, que ganharam destaque no país durante a década de 1990, como Banda Eva, Chiclete com Banana, Netinho, Jamil e Uma Noite, É o Tchan, Asa de Águia, Araketu, Ivete Sangalo, entre outros. É importante ressaltar que todas essas bandas supracitadas já estiveram na Micareta de Jacobina.
No início esse festejo fazia parte de todas as áreas centrais da cidade, tendo como antecedente à micareta a “Lavagem  do Beco do Lelinho” que perdurou diversos anos, além do baile vermelho e branco, hoje também extinto.
Atualmente, as Micaretas acontecem durante todas as épocas do ano no Brasil,  com versões ao ar livre e também indoor (dentro de casas noturnas), mas sem abandonar suas tradições mais emblemáticas, como o trio elétrico, blocos com os abadás, pipocas e a animação típica do carnaval brasileiro. Em Jacobina, o festejo acontece geralmente no final do mês de  abril ou início de maio.
Com a modernização dos trios elétricos, sendo estes cada vez maiores e mais potentes, o circuito que ficou por muito tempo na Praça Rio Brando à Praça da Castro Alves “Matriz” foi transferido. Hoje o evento acontece no circuito da Avenida Orlando Oliveira Pires e Avenida Lomanto Junior, todas essas mudanças foi no intuito de trazer uma melhor acomodação ao público que aqui presencia e o nome atual dado a esta festa da Micareta é “Jacofolia”.


 Figura 4: Foto da Multidão de foliões no novo circuito, ao fundo um trio elétrico moderno.
 Fonte: spiaki.com.br            




         


       Figura 5: Foliões na Micareta, palanque moderno.
       Fonte: cidadedoouro.com.br

















Figura 6: Foliões na Micareta 2010; Barracas e camarotes modernos
Foto: Ricardo Pereira Menezes

A tradicional Micareta de Jacobina atrai milhares turistas de todo território nacional e até mesmo visitantes internacional, gerando economicamente muitos benefícios para a cidade como emprego efêmero à população, hospedes para a rede hoteleira, alugueis temporários de residências, aluguel do trio elétrico e movimenta todo comércio local, gerando em torno da micareta diversas rendas com confecção dos abadas para os blocos e suas respectivas vendas, além disso, os cordeiros (pessoas que seguram as cordas) e diversos outros trabalhadores ambulantes usufruem economicamente deste evento.
Outros fatores importantes desta festa são os grupos culturais tradicionais que desfilam como o caso do grupo “Os Cãos” e “Filarmônica 2 de Janeiro”, conforme fotos abaixo.


                                      
                Figura 7: Os Cãos
Fonte: Adenor Gondim



     Figura 8: Filarmônica 2 de Janeiro
     Fonte: Google (Não foi encontrado fotos antigas da filarmônica)





 Cada cidadão, ao conhecer as características sociais, culturais e naturais do lugar onde vive, bem como as de outros lugares, pode comparar, explicar, compreender e espacializar as múltiplas relações que diferentes sociedades em épocas variadas que estabeleceram e estabelece com a natureza na construção do seu espaço geográfico. PCNs HISTÓRIA E GEOGRAFIA (1997).


REFERÊNCIA



ALMEIDA, Ronaldo Rodrigo F.; OLIVEIRA, Valter Gomes Santos. Juventino Rodrigues e a Difusão da Fotografia em Jacobina (1930 – 1940). ANAIS do III Encontro Estadual de História: Poder, Cultura e Diversidade – ST 02: História e Imagem. Disponível em: http://www.uesb.br/anpuhba/artigos/anpuh_III/ronaldo_rodrigo.pdf. Acesso em: 26/01/2011.

PCNs HISTÓRIA E GEOGRAFIA, 1997.

Site Cidade do Ouro. Disponível em: http://www.cidadedoouro.com.br/2009/09/jacobina-ba-1-micareta-do-brasil.html. Acesso em: 01/06/2010

BIBLIOGRAFIAS INDICADAS
EMOS, Doracy Araújo. Jacobina, sua história e sua gente/memórias: Doracy Araújo Lemos, Jacobina. D. A. Lemos, 1995

SANTOS, Vanicléia Silva. Sons, danças e ritmos: A Micareta em Jacobina-Ba (1920-1950), Dissertação de Mestrado em História. Pontifícia Universidade Católica, SP, 2001

SILVA, Alcira Pereira Carvalho. Jacobina Sim . UFBA, 1986.

4 comentários:

  1. Tenho certeza de que não leram o trabalho da prof° Vanicléia Silva SANTOS, citado nas referencias, se tivesse lido não tinha dito tantas besteiras, leiam o trabalho e revisem o texto.

    Mero relato memórialisto, serve pra guia turistico mesmo,rsrs,

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    1. Olá Xupacabra! não posso aceitar sua crítica, porque você não leu nem o tema do blog, muito menos o livro de SANTOS, a prova é que "referências" usa-se acento, não precisa sacrificar o português. Outra coisa, quando esse trabalho foi realizado não tinha nenhum outro a não ser livros para pesquisar, o conhecimento é feito para compartilhar. Por que você não faz um melhor para servir de base para alguém pesquisar? Aí sim, após isso aceitarei suas críticas e acreditarei que você é uma pessoa inteligente, pois compartilhou algo que serviu para alguém.

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  2. Micarême era uma festa que acontecia na França, desde o século XVI, em meio ao período de quarenta dias de penitência da Igreja Católica. De origem francesa, a palavra significa literalmente "meio da quaresma". No Brasil, a introdução da Micarême como festa urbana, ocorreu primeiramente na cidade de Feira de Santana, Bahia.1 2 3 4

    Somente a partir de 1937, através de um plebiscito feito pelo Jornal A Tarde, houve a mudança do nome para "micareta" que acabou significando, tanto na Bahia, como no Brasil, uma espécie de "segundo carnaval", que acontecia depois da Páscoa. Jacobina também abandonou o vocábulo anterior, adotando o mesmo do resultado do plebiscito realizado na capital pelo "A Tarde".
    Economia

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    1. Olá Fabrício, realmente existe essa discussão entre Jacobina e Feira de Santana o que diferencia são as provas como fotos, relatos do moradores e os livros pesquisados. Jacobina não abandonou até hoje essa festa da Micareta, que acontece sempre entre março e abril, claro que nos anos de seca não vem a realizar.
      Quero lhe agradecer pelo seu comentário e suas colocações, estou sempre disposto para qualquer dúvida ou material que precisar.

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